Era uma gélida noite de inverno irlandês. Amigo oculto do Yôga. Semanas antes iniciaram-se as buscas aos presentes de cunho Hare Krishna. Presentes devidamente embalados, chakras alinhados, seguimos para a prática, a última antes do Natal. Começaram então os trabalhos. Mas não era um amigo oculto comum. Aliás com tantos amigos ocultos subsequentes no fim do ano, agora inventam-se regras e surpresinhas pra gente não morrer de tédio com a frase “O meu amigo oculto é uma pessoa…” repetida incessantemente nessa época do ano. Tortura para os ouvidos.

Pois bem, nesse amigo oculto a regra era: anarquia total! Os presentes vão para o meio da roda e são escolhidos aleatoriamente. Não bastando, ainda pode-se roubar o presente já aberto por outro amiguinho acabando assim com a felicidade dele. Uma bela oportunidade para praticar o egoísmo, ainda mais se o presente for aquele que você queria ter comprado (mas como não era pra você acabou pegando o mais barato). Falando nisso, quem nunca deu um CD da Sandy & Júnior pro amigo oculto e ganhou um estojo do 1,99? O ensino fundamental era mesmo cruel…Ok, perdi o foco…voltando…

Assim ganhamos o Bonsai, que aliás não foi roubado de nenhum coleguinha. Meu marido e ele se olharam e foi amor à primeira vista. O único ser vivo dentre os presentes. Ninguém ousaria desalinhar seu chakra roubando um Bonsai. Deus o livre! Saímos de lá com ele nos braços, felizes e saltitantes.

À essa altura a gente já se preparava para mudar para outro país e eu só pensava em como levar o pequeno “arboríneo” comigo. Ele, que aguentou aquele inverno rigoroso e ouviu todas as minhas lamentações sem poder me mandar calar a boca, tinha que ir comigo.

Começa a pequisa. Google: “Como levar um bonsai no avião?” E assim descobri que poderia levar tudo no avião menos um Bonsai.

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Aparentemente você pode levar um caranguejo como bagagem mas não uma árvore. #achoinjusto

Não achava nenhuma pista. Grupos no Facebook advertiam: “Leva na mão, eu já levei uma orquídea”. Atendimento da cia aérea: “O objeto não pode ultrapassar as dimensões de uma mala, senhooora” Filha, você ouviu quando eu disse que era um bonsai? Ou seja, um filhote de árvore? Uma mini árvore? Como ele poderia ser maior que uma mala? Afe… essas respostas automáticas do telemarketing são maravilhosas (#sqn).

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Após informar a cia aérea era só voar.

Tudo pronto, chegou o grande dia. Malas fechadas, pesadas, lacradas. Algumas coisas pra fora. Pendurei tudo aquilo em mim e fui. No bonsai, um cachecol leve para a viagem. Um perfeito disfarce.

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Quando uma árvore está mais bem vestida que você (uma mistura de muambeira com mochileira hippie.)

Tudo ia bem até que uma atendente desprovida de bom-humor me pára: “A senhora tem que fazer com que tudo isso caiba na sua mala e já lhe aviso que não vai caber.” Ela olhava para o Bonsai com desdém. Abri a mala e a mochila e entrei em desespero. Era o Bonsai ou a mala. Sentada ali, meu mundo caiu. E a mulher não calava a matraca. Parecia torcer para tudo dar errado, desde o Bonsai até o meu futuro. Sim, porque sou dessas que transforma tudo em uma metáfora da própria vida. #mejulguem #soudehumanas Levei pro pessoal, sim; não sou obrigada. Foi quando ela disse “Em três minutos a porta do avião se fecha”. Em um movimento súbito me jogo no chão, lágrimas escorrem, voz embarga: “Não, você não entende, ele tem que ir… estou mudando de país… você não tem coração… eu já doei tudo o que tinha… o bonsai tem que ir… ” Estilo “E o vento levou”.

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Se não for pra me jogar no chão nem faço drama.

A mulher em choque e diz “Ok, mas vá logo”. I-me-di-a-ta-men-te as lágrimas secaram, sorriso no rosto, ar de vencedora, peguei o Bonsai e seguimos rumo à um futuro brilhante. Cada um usa os talentos que tem. A mim cabe o drama e o humor. Não funcionando um só me resta o outro.

Assim o Bonsai Viajante aterrisou em Portugal. Já trocou suas folhas e passa bem. Gostou tanto da aventura que agora tem um Instagram: @obonsaiviajante.

E você, tem algum “causo” de aeroporto? De bonsai? De pirraça? Quem não tem, né? Conta pra gente!

 

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